FJP apresenta perfil socioeconômico da região de Barbacena

Série de webinários analisa dados e indicadores das 13 Regiões Geográficas Intermediárias de Minas Gerais. Evento foi o sétimo de 13 seminários virtuais

A Fundação João Pinheiro realizou, na quinta-feira, 12 de agosto, o webinar Compreendendo as Características Socioeconômicas da Região Geográfica Intermediária de Barbacena. Esse foi o sétimo de uma série de 13 eventos dedicados à apresentação da situação social e econômica das regiões mineiras. Realizada em parceria com a Escola do Legislativo da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e a Associação Mineira de Municípios (AMM), esta edição da série contou com as participações dos convidados Regina Magalhães (ALMG) e da professora Simone de Faria, da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).

A Região Geográfica Intermediária (RGInt) de Barbacena é composta por 49 municípios que somam 15.260,09 quilômetros quadrados (2,60% da área total de Minas Gerais). Nela, vivem 772,7 mil pessoas, o que corresponde a 3,7% da população mineira.

Aspectos sociais – De acordo com o Censo Demográfico de 2010, entre as 13 RGInt  de Minas Gerais, a de Barbacena era a segunda menor em termos populacionais, à frente somente da RGInt de Uberaba. O tamanho da população da RGInt está diretamente relacionado ao fato dela ser formada por poucos municípios que, de forma geral, são muito pequenos, e à sua baixa taxa média de crescimento populacional (menor que 1% ao ano entre 2000 e 2010).

A pesquisadora Denise Maia explicou que, de acordo com as projeções populacionais realizadas pela FJP, a tendência é de crescimento nos próximos dez anos, mas de reversão desse quadro em 2040. “Nas projeções populacionais para a região vocês podem observar que há crescimento até 2030 e, a partir daí, decrescimento. Para 2040 estima-se que 49% dos municípios da RGInt de Barbacena registrarão taxas negativas de crescimento da população”.

Segundo o Índice Mineiro de Responsabilidade social, a situação da RGInt é pior que a do estado nas dimensões Saúde e Educação. No entanto, nas demais dimensões, a situação da RGInt de Barbacena é melhor que a do estado, com destaque para a dimensão Segurança Pública.

Saneamento – Dos 49 municípios da RGInt de Barbacena, 23 (46,9%) declararam, em 2018, possuir política e 31 (63,3%), plano municipal de saneamento básico.  Do total de municípios, somente 44,9% declararam contar com ambos instrumentos de planejamento.

Em relação à cobertura de rede de abastecimento público de água, 71,4% possuíam o serviço de abastecimento provido pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa); 16,3% pelas prefeituras; e 4,1%, por serviços autônomos de água e esgoto (Saae) e por Departamento de Água e Esgoto. Quanto à cobertura de rede de esgotamento sanitário na RGInt, 18,4% recebiam o serviço pela Copasa; 6,1%, por SAAE; 51,0%, por prefeituras.

Em 2018, 46,9% dos municípios da RGInt não possuíam esgoto tratado em relação à água consumida e 20,4% apresentaram percentual de cobertura desse serviço acima de 20%. “Os maiores percentuais de tratamento foram observados em Senhora de Oliveira (91,7%), Prados (64,8%) e Desterro do Melo (64,4%). De acordo com o SNIS, em 2018, os municípios de Belo Vale e Ibertioga possuíam 100% de tratamento do esgotamento coletado”, explicou o pesquisador Frederico Poley.

Atividade econômica – A contribuição da RGInt de Barbacena para o PIB estadual cresceu de 3,0% em 2010 para 3,3% em 2013, retornou a 3,0% em 2016 e daí oscilou positivamente, para 3,1%, em 2018. A contribuição regional para o VAB da indústria estadual oscilou de 3,4% em 2010 para 4,3% em 2013 e daí, para 3,1% em 2016 e 3,5% em 2018. A contribuição regional para o VAB do comércio e demais serviços privados oscilou de 2,7% em 2010 para 2,8% em 2013, 2,6% em 2016 e 2,7% em 2018.

A agropecuária tem sido uma atividade com participação cada vez maior da RGInt na economia estadual: 2,4% em 2010, 3,0% em 2013, 3,6% em 2016 e 3,4% em 2018. Na administração pública, houve forte estabilidade na participação da RGInt no período considerado: 3,7% em 2010 e 2013 e 3,8% em 2016 e 2018. No intervalo entre 2010 e 2018, portanto, ocorreram mudanças expressivas na composição setorial da produção e no peso da economia da RGInt de Barbacena para o total estadual.

“Seis municípios perfizeram 72,7% do PIB da RGInt em 2018: Ouro Branco acumulou a maior participação, com 21,3%, seguido por Barbacena (14,9%), São João del Rei (11,2%), Conselheiro Lafaiete (11%), Congonhas (8,9%) e Jeceaba (5,3%)”, apresentou o pesquisador Raimundo Leal.

PIB per capita – Em valores correntes, o PIB per capita de Minas Gerais evoluiu de R$ 17,9 mil em 2010 para R$ 23,7 mil em 2013, R$ 25,9 mil em 2016 e R$ 29,2 mil em 2018. Na RGInt de Barbacena, a evolução foi de R$ 14,5 mil para, respectivamente, R$ 21,4 mil, R$ 20,9 mil e R$ 24,8 mil.

Exportações – Em 2020, as exportações estaduais registraram crescimento de 4,3%. Nesse mesmo ano, as exportações da RGInt de Barbacena apresentaram retração de 8,8% em razão da retração das exportações de produtos siderúrgicos (obras de ferro fundido, ferro e aço; ferro fundido, ferro e aço). A participação das exportações dos municípios da RGInt correspondeu a 3% do total do estado, inferior à registrada em 2019 (3,4%).

Os principais produtos exportados são os siderúrgicos: obras de ferro fundido, ferro e aço; e ferro fundido, ferro e aço. Em 2020, as exportações de tubos ou perfis ocos de ferro ou aço reduziram-se 42,8% em valor e 41,3% em volume; as exportações de ferro fundido, ferro e aço retraíram-se 17,4%, registrando-se aumento das exportações dos produtos semimanufaturados (29,1%), mas queda das exportações de ferro-ligas (16,5%) e fio-máquina (33,9%).

Em geral, em razão dos desdobramentos da pandemia da covid-19, houve retração das exportações para importantes mercados dos produtos siderúrgicos mineiros, destacando-se os Estados Unidos, países árabes e europeus. Com isso, a participação das exportações de obras de ferro fundido, ferro e aço registrou 28,3% em 2020, ante 45% em 2019, e as exportações de ferro fundido, ferro e aço, 32,8% ante 36,2%.

Em contrapartida, as exportações de minério de ferro registraram crescimento expressivo de 1.287%. No ano anterior, em razão do rompimento da barragem em Brumadinho e da reclassificação dos padrões de segurança, as operações na Mina da Fábrica, localizada em Congonhas, foram suspensas. Em 2020, com a retomada da operação, a participação das exportações de minério de ferro saltou de 3% para 24,1%.

Em seus comentários finais, a professora Simone de Faria (UFSJ) ressaltou a preocupação com o planejamento para que o crescimento seja sustentável. “A siderurgia, que historicamente foi muito apoiada pelo setor público, seria um setor-chave na economia e, aí, a gente vê que ela não se coloca mais assim”, observou. “Isso me deixa um pouco mais à vontade para a crítica: a gente tem nos seus dados essa quebra em relação a esse setor, mesmo sendo muito importante para a economia, o que nos permite ver a necessidade de pensar, em termos de planejamento, em um processo de industrialização um pouco mais amigável com a questão ambiental”, completou.