Fundação João Pinheiro divulga resultados do PIB mineiro no 1° trimestre de 2020
O Produto Interno Bruto (PIB) gerado em Minas Gerais nos 12 meses completados em março de 2020 foi, em termos reais, 0,9% inferior ao registrado nos 12 meses imediatamente anteriores (taxa de variação anualizada). Para a economia brasileira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estimou um incremento de 0,9% na mesma base de comparação.
Os dados, analisados pela Fundação João Pinheiro (FJP), foram divulgados nesta segunda-feira (15), em transmissão ao vivo.
Segundo o estudo, o descasamento da taxa anualizada do PIB mineiro em relação ao do Brasil foi verificado a partir do segundo trimestre de 2019, em função, principalmente, dos desdobramentos da disrupção da produção de minério de ferro e da bianualidade do ciclo de safras do café.
No caso da indústria extrativa mineral, medidas de reforço da segurança das barragens do estado após o rompimento do Córrego do Feijão, em Brumadinho, induziram a suspensão temporária da operação de várias minas (segundo trimestre de 2019). Além disso, a evolução do PIB real mineiro no terceiro trimestre de 2019 foi afetada por um fator específico e típico da estrutura produtiva estadual: o efeito da baixa produção do café em anos ímpares (2019) conforme o ciclo bianual da cultura.
No primeiro trimestre de 2020, a deterioração do produto agregado mineiro e brasileiro esteve relacionada à ocorrência da pandemia do novo coronavírus (sobretudo a partir das últimas semanas de março) e suas consequências sobre a dinâmica econômica e social interna (o distanciamento e isolamento social e o fechamento de estabelecimentos) e externa (ao afetar o comércio internacional entre as regiões). Com isso, houve piora da taxa anualizada do PIB nacional (de 1,1% no quarto trimestre de 2019 para 0,9% no primeiro trimestre de 2020). Em Minas Gerais, essa deterioração foi ainda mais acentuada (de -0,3% para -0,9%).
Essa constatação é corroborada pela análise do comportamento do PIB na série com ajuste sazonal. De fato, no primeiro trimestre de 2020, o PIB de Minas Gerais recuou 1,8% em relação ao quarto trimestre de 2019. No Brasil, a queda foi ligeiramente inferior: de 1,5% na mesma base de comparação.
Observando-se as taxas de variação do índice de volume do Valor Adicionado Bruto (VAB) das diversas atividades econômicas, nota-se que a retração foi bastante generalizada entre os setores. Poucos segmentos apresentaram performance positiva em Minas Gerais e no Brasil no primeiro trimestre de 2020. Uma das exceções foi o setor agropecuário: expandiu 6,7% no estado no primeiro trimestre de 2020 em relação ao trimestre imediatamente anterior (e 10,0% na comparação com o mesmo trimestre do ano passado); no Brasil, as taxas de expansão do setor agropecuário foram mais modestas, respectivamente, de 0,6% (na série com ajuste sazonal) e de 1,9% (na série sem ajuste sazonal).
Setores – O desempenho do setor agrícola e, particularmente, da safra de grãos foi determinante para o resultado positivo no primeiro trimestre. Três fatores são fundamentais para explicar a agricultura no estado: 1) a proporção da safra colhida de cada uma das culturas no primeiro trimestre; 2) a projeção da variação da produção anual pelo Levantamento Sistemático de Produção Agrícola (LSPA); e 3) o peso da cultura na estrutura produtiva local.
Na indústria de Minas Gerais, houve retração no índice de volume do VAB em três dos quatro subsetores na análise da série dessazonalizada (extrativa mineral, construção civil e energia e saneamento). Nas atividades de produção e distribuição de eletricidade e saneamento (utilidades públicas), o VAB apresentou variação negativa no estado (-3,7%) na comparação do primeiro trimestre de 2020 com o quarto trimestre do ano passado.
Na atividade de extração mineral em Minas Gerais, a retração de 2,0% na comparação dos três primeiros meses de 2020 com os três últimos de 2019 (série com ajuste sazonal) e de 30,7% na comparação com o mesmo período do ano passado (série sem ajuste sazonal) esteve relacionada ao adiamento na retomada das operações de várias minas situadas no estado de Minas Gerais.
A construção civil foi outro setor afetado pela pandemia do novo coronavírus. Em Minas Gerais, o volume de VAB do segmento retraiu 4,1% no primeiro trimestre de 2020 em relação ao último trimestre de 2019. No Brasil, a queda foi de 2,4% na mesma base de comparação. Além do ritmo mais lento em obras de infraestrutura que vigorava no período pré-pandemia, o mercado imobiliário foi prejudicado com o distanciamento social (sobretudo a partir de março). No estado, esse argumento é corroborado pela retração do pessoal ocupado no trimestre conforme a PNAD Contínua, pela queda na fabricação dos principais insumos para a construção civil (minerais não metálicos) e pela inflexão nas vendas de materiais relacionadas à cadeia do setor. A indústria de transformação estadual foi o único setor industrial que ainda apresentou expansão no volume de VAB (0,9%) na série com ajuste sazonal, após o quarto trimestre de 2019 com resultado ainda mais desfavorável. Esse resultado não deve se repetir no próximo trimestre com o agravamento da crise e a paralisação de muitas atividades industriais importantes, sobretudo da indústria “pesada” (metalurgia, veículos, entre outras). Vale dizer que, na comparação do primeiro trimestre de 2020 com o mesmo trimestre do ano passado, o setor recuou 1,7% no estado.
De acordo com a Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF), por um lado o resultado negativo em Minas Gerais nessa última base de comparação esteve relacionado à queda na produção de bebidas, produtos químicos, metalurgia, refino e fabricação de biocombustíveis, produtos de metal, veículos automotores e de minerais não metálicos. Por outro lado, alguns segmentos da chamada indústria manufatureira “leve” apresentaram expansão e atenuaram a retração observada nos demais setores. Foi o caso da indústria têxtil, da fabricação de fumo, de produtos alimentícios e de celulose e papel.
No que se refere ao setor de serviços, o volume de VAB de transporte teve retração de 1,7% em Minas Gerais no primeiro trimestre de 2020 comparativamente ao quarto trimestre do ano anterior (série dessazonalizada) e de 5,0% na comparação com o mesmo trimestre de 2019 (série sem ajuste sazonal). No Brasil, as quedas foram, respectivamente, de 2,4% e de 1,6%. No estado, os três modais foram afetados. O modal ferroviário teve seu ritmo diminuído em razão do seu encadeamento com o segmento de extração mineral. O aeroviário foi bastante afetado pelas medidas de isolamento social e redução no número de passageiros nos aeroportos (sobretudo em março) e, finalmente, o modal rodoviário também sentiu os efeitos da pandemia, corroborado pela redução nas vendas de combustíveis de petróleo e álcool na economia mineira. O volume de VAB da administração pública (que inclui a produção das esferas federal, estadual e municipais) variou positivamente na série com ajuste sazonal em Minas Gerais: 0,4% no primeiro trimestre de 2020 em relação ao trimestre imediatamente anterior. No Brasil, ao contrário, o segmento recuou 0,5% na mesma ótica de comparação. No comércio, houve retração de 1,5% em Minas Gerais no primeiro trimestre de 2020 em relação ao último trimestre do ano passado (queda de 0,8% no Brasil). Porém, na comparação com o mesmo trimestre de 2019, o volume de VAB de comércio expandiu 0,5% no estado e 0,4% no cenário nacional.
De acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), por um lado houve ampliação no volume de vendas no estado no segmento de supermercados e hipermercados, de equipamentos de escritório e materiais de informática e comunicação, de veículos, motocicletas, partes e peças e, principalmente, de artigos farmacêuticos. Por outro lado, houve abrupta retração nas vendas de combustíveis e lubrificantes e de material de construção (corroborando as quedas no volume de VAB dos setores de transporte e da construção civil mencionadas anteriormente). No conjunto agregado dos “outros serviços”, conforme a abertura do Sistema de Contas Trimestrais de Minas Gerais, houve queda de 3,2% no volume de VAB desse agrupamento no estado no primeiro trimestre de 2020 em relação ao quarto trimestre de 2019 (série dessazonalizada). No Brasil, o recuo foi de 1,6% na mesma base de comparação.
Tanto em Minas Gerais quanto em âmbito nacional percebe-se que as atividades mais afetadas nesse grupo foram aquelas mais diretamente ligadas à possibilidade de aglomeração social (artes, cultura, esporte, recreação, cinema, teatro, salões de beleza, academia, alojamento, alimentação fora do domicílio e atividades turísticas). A Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) corrobora esse argumento para Minas Gerais.
Para o primeiro trimestre de 2020, a estimativa preliminar da FJP para o PIB de Minas Gerais totalizou R$ 153,6 bilhões a preços correntes. O VAB da agropecuária foi estimado em R$ 9,8 bilhões (7,3% do total), o da indústria em R$ 31,5 bilhões (23,5% do total), o dos serviços em R$ 92,7 bilhões (69,2% do total).
Metodologia – O PIB trimestral do estado é calculado pela FJP com metodologia própria, suas estimativas são preliminares e, portanto, estão sujeitas a revisão quando da divulgação das pesquisas econômicas estruturais pelo IBGE. Usualmente, os dados definitivos são conhecidos com defasagem de dois anos, o que reforça a importância das Contas Trimestrais produzidas pela FJP de proporcionar tempestividade na divulgação de informações relativas ao desempenho da economia estadual. Os resultados trimestrais são revistos com dois ajustes principais: 1) atualização da estrutura de ponderação das atividades econômicas no Valor Adicionado Bruto de Minas Gerais, sempre na divulgação dos resultados do terceiro trimestre; 2) substituição de projeções ou valores preliminares nas séries de dados primários utilizados no cômputo do PIB trimestral por valores consolidados, em todas as divulgações trimestrais.