PIB mineiro apresenta expansão de 8,1%
Dados do terceiro trimestre de 2020 foram divulgados pela Fundação João Pinheiro
O Produto Interno Bruto (PIB) de Minas Gerais apresentou expansão de 8,1% no terceiro trimestre de 2020 comparativamente ao trimestre anterior. Os dados foram apresentados pela Fundação João Pinheiro (FJP) nesta sexta-feira (11/12) e estão disponíveis na íntegra pelo site www.fjp.mg.gov.br.
O incremento de 8,1% foi o maior da série histórica com ajuste sazonal das Contas Trimestrais de Minas Gerais, iniciada em 2002, assim como a expansão de 7,7% do PIB brasileiro estimado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na mesma base de comparação. O resultado pode ser explicado pela retomada gradual das atividades associada ao relaxamento nas medidas de restrição à circulação de pessoas devido à pandemia da Covid-19.
Apesar da alavancada, o estudo alerta que o resultado incidiu sobre uma base de comparação extremamente deprimida (-9,3% no trimestre anterior) e o nível de atividade ainda não foi capaz de retornar ao patamar do período pré-pandemia, tendo em vista que a taxa acumulada nos três primeiros trimestres de 2020 comparativamente ao mesmo período de 2019 registrou abrupta variação negativa em Minas Gerais (-5,2%) e no país (5,0%).
De acordo com Raimundo Leal, pesquisador da Fundação Joao Pinheiro e coordenador de Contas Regionais, alguns fatores, que não necessariamente vão atuar na mesma direção, devem ser levados em conta ao projetar o comportamento da economia para os próximos meses. “Primeiro, se o auxílio emergencial for de fato retirado a partir de janeiro, pode haver um atraso na recuperação de alguns setores. Por outro lado, há algumas boas expectativas: quanto mais rápido a população for vacinada em larga escala, mais rápida será a recuperação econômica. Além disso, a retomada da economia mundial vai ter um impacto grande na economia mineira e brasileira. A China já saiu da crise causada pela pandemia e tem apresentando um crescimento robusto nos últimos trimestres, e os países capitalistas avançados já estão bem adiantados nesse cronograma de vacinação. Espera-se que de março e abril em diante a recuperação deve vir mais forte”, explica.
Setores – O resultado positivo no terceiro trimestre de 2020 no estado refletiu a forte influência da retomada na indústria de transformação (21,1%) e no comércio (16,1%). No Brasil, as recuperações dessas atividades econômicas também tiveram destaque com crescimento, respectivamente, de 23,7% e 15,9%. O destaque no terceiro trimestre de 2020 vai para a fabricação de bebidas e a retomada em segmentos prejudicados com as paralisações no segundo trimestre, como a indústria têxtil e a cadeia metalomecânica (com aumento no volume produzido na fabricação de produtos de metal, máquinas e equipamentos, na metalurgia e, principalmente, na produção de veículos automotores).
No comércio, a expansão de 16,1% no volume de Valor Adicionado Bruto (VAB) em Minas Gerais no terceiro trimestre de 2020 pode ser creditada à ampliação no volume de vendas em segmentos correlatos aos que tiveram recuperação na indústria de transformação (como nas vendas de veículos, peças e acessórios, e de tecidos, vestuário e calçados), além do resultado favorável no comércio varejista de uso pessoal e doméstico.
Na construção civil, o volume de VAB do segmento expandiu 6,5% no comparativo do terceiro com o segundo trimestre de 2020. A retomada nas atividades de extração mineral (1,5%) e de energia e saneamento (2,6%) foram mais moderadas na análise da série dessazonalizada no estado. No caso dos setores industriais de utilidade pública, a recuperação esteve atrelada à melhora gradativa no consumo de energia elétrica empresarial e, principalmente, ao incremento na geração hidroelétrica estadual no trimestre.
No que se refere ao setor de serviços (para além da análise da atividade de comércio mencionada anteriormente), o crescimento no volume de VAB de transporte em Minas Gerais (9,2% no terceiro trimestre de 2020 comparativamente ao segundo trimestre deste ano na série com ajuste sazonal) também foi importante para compreensão da expansão do produto agregado mineiro. O resultado positivo esteve associado à melhora incipiente no modal aeroviário (ainda aquém do nível de atividade observado para o segmento no período pré-pandemia) e, principalmente, à retomada do modal rodoviário em face da necessidade de escoamento da produção das demais atividades da economia. No conjunto agregado dos “outros serviços”, conforme a abertura do Sistema de Contas Trimestrais de Minas Gerais, houve incremento de 6,6% no volume de VAB no terceiro trimestre em relação ao segundo trimestre do ano (série com ajuste sazonal). Esse resultado demonstra que a recuperação foi insuficiente para contrabalancear a forte queda ocorrida no segundo trimestre (-10,1%) na série dessazonalizada.
Ainda assim, Minas teve no período um dos menores números de casos e mortes por milhão de habitante por Covid-19, o que, segundo Raimundo Leal, pode ter contribuído para que essas atividades se recuperassem um pouco mais rapidamente no estado.
De fato, a retomada foi apenas parcial nas atividades que dependem fortemente da circulação de pessoas (como os serviços prestados às famílias, os serviços de alojamento e alimentação e as atividades turísticas). O volume de VAB da administração pública em Minas Gerais variou positivamente na série dessazonalizada (2,7%) no comparativo entre o terceiro e o segundo trimestre. A expansão, todavia, também foi insuficiente para compensar a forte retração no número de procedimentos clínicos, cirúrgicos e de finalidade diagnóstica ocorrida no auge do isolamento social provocado pela pandemia.
A atividade agropecuária apresentou ligeira expansão, 0,2%, no volume de VAB em Minas Gerais no terceiro trimestre na análise da série com ajuste sazonal. No entanto, a comparação com o segundo trimestre não é trivial tendo em vista que as safras e as proporções colhidas são distintas. A compreensão do resultado agropecuário faz mais sentido quando se compara o terceiro trimestre de 2020 com o mesmo trimestre do ano passado tendo em vista que as proporções e safras colhidas são, nesse caso, semelhantes. Nessa ótica de comparação, o volume de VAB agropecuário cresceu 12,2%. Esse resultado positivo no trimestre pode ser explicado pela cafeicultura em ano de alta produtividade da cultura no ciclo bianual do café e pelo aumento na quantidade produzida na terceira safra da batata e do feijão (culturas com proporções colhidas relevantes no terceiro trimestre).
Estimativa – Para o terceiro trimestre de 2020, a estimativa preliminar da FJP para o PIB de Minas Gerais totalizou R$ 171,8 bilhões a preços correntes. Na composição setorial relativa, o VAB da agropecuária foi responsável por R$ 12,7 bilhões (8,3% do total); o da indústria, por R$ 43,8 bilhões (28,8% do total); o dos serviços, por R$ 95,7 bilhões (62,9% do total).